5.5.10

Bastidores da Marcha da Família com Deus pela Liberdade


Marcha da Familia – personagens e notas

Patrick Peyton

Patrick Peyton foi um padre irlandês, nascido em Carracastle, no Condado de Mayo, Irlanda, em 9 de janeiro de 1909, pároco em Hollywood, fundador da Cruzada do Rosário em Família, movimento autorizado pela Igreja Católica que visava unir as famílias em torno da oração.

Conhecido como "o padre de Hollywood", pelo gosto por holofotes e multidões.

Sua vinda ao Brasil foi decidida no final de 1962, em Washington. Hoje já se sabe que Padre Peyton foi bancado pela Agência Central de Inteligência (CIA) do serviço secreto.

A operação clandestina mais importante para derrubar João Goulart foi intermediada por um multimilionário devoto do catolicismo, J. Peter Grace, e financiada em parte por um empresário que não é diretamente identificado no livro.

Não era apenas uma questão de fé. Grace tinha interesses econômicos na América do Sul em transporte, açúcar e mineração.

Está tudo no livro de Hugh Wilford. “The Mighty Wurlitzer, How the CIA played America”, que descreve a guerra cultural travada entre a União Soviética e os Estados Unidos por corações e mentes durante a guerra fria.

Diz o livro que o milionário J. Peter Grace era “Um homem decidido, ele sempre usou dois relógios, um mostrando a hora local de onde estava e outro com a hora da sede da empresa, em Nova York. Ele também carregava um revólver na cintura.”

Católico devoto, ele era integrante de uma organização secreta chamada Os Cavaleiros de Malta, através da qual exercia grande influência na hierarquia católica dos Estados Unidos.

Da organização fizeram parte dois diretores da CIA, William Casey e John A. McCone. Peter Grace era Chefe da Seção Americana dos Cavaleiros de Malta - Presidente da W. R. Grace & Co., patrocinou a "Operação Clipe de Papel" - para recrutar os maiores cientistas alemães a fim de trabalharem em seu esforço de construírem foguetes no pós-guerra.

Von Braun, que inclusive havia sido preso em 1944 por suspeita de traição, após haver declarado que a V-2 era destinada à exploração espacial e não a guerra, reuniu 115 colaboradores e afinal renderam-se aos norte-americanos.

Grace foi o intermediário entre o então diretor da CIA, Allen Dulles, e o padre Patrick Peyton, fundador da Cruzada do Rosário, dedicada a promover a Virgem Maria.

Os dois pediram 500 mil dólares para financiar as atividades iniciais da Cruzada na América do Sul. Dulles gostou do projeto apresentado e convocou Grace para um encontro com o então vice-presidente Richard Nixon, na Casa Branca (ele serviu no posto de 1953 a 1961).

Nixon já conhecia o multimilionário Grace, que havia apresentado meses antes a dois outros empresários com grandes interesses na América do Sul, David Rockefeller e Juan Trippe, o dono da empresa de aviação PanAm.

É óbvio que os empresários tinham interesses econômicos em jogo, além dos ideológicos e religiosos.

A Cruzada para a Oração da Família, de Nova York, foi escolhida como organização de fachada. O projeto-piloto custou 20 mil dólares e aconteceu em La Serena, no Chile.

Diante do sucesso da mobilização dos católicos chilenos, em 1960, o padre Peyton recebeu a promessa de financiamento de 100 mil dólares para mobilizar os católicos de Caracas. O comício final da Cruzada na Venezuela atraiu 600 mil pessoas.

Em Bogotá, a multidão chegou a 1 milhão de pessoas. O objetivo central do projeto era derrotar candidatos comunistas em eleições, promovendo políticos e governos favoráveis os Estados Unidos.

Logo depois do comício de Bogotá, houve mudança repentina de planos. O empresário Peter Grace, intermediário entre a CIA e o padre católico, informou a Peyton que o alvo então eram o Recife e o Rio de Janeiro, numa campanha que começou em 1962.


Traduzo o trecho mais importante referente ao Brasil, que aparece nas páginas 190 e 191:


“A Cruzada tinha desenvolvido em 1962 uma técnica de evangelização chamada Missão Popular, que envolvia o recrutamento local de técnicos que viajavam com equipamento para mostrar filmes religiosos feitos na Espanha em projeções ao ar livre, com comentários de catequisadores laicos.

À técnica foram acrescentados efeitos especiais espetaculares desenvolvidos para apelar à população dos centros urbanos, como o Rio de Janeiro, onde a famosa estátua do Cristo, no Corcovado, foi decorada com um rosário iluminado de 30 metros e uma cruz de 7 metros de altura.

Quando Peyton pregou na cidade, em 16 de dezembro de 1962, 1,5 milhão de brasileiros vieram ouvi-lo.

Um ano depois, na Festa da Imaculada (8 de dezembro de 1963), também declarado o Dia da Família pelo presidente João Goulart, a Cruzada patrocinou uma transmissão de TV especial desde o Rio de Janeiro, na qual estrelou, entre outros, Bing Crosby, a estrela do futebol Pelé e Agostinho dos Santos, que se autodefinia como “o rei da bossa-nova do Brasil”, que cantou a versão em samba da Ave Maria.

O programa, que também foi mostrado em outros países da América do Sul, atingiu a maior audiência da história do Rosário da Família.

Esses feitos espetaculares foram obtidos num período de crescente crise política no Brasil, que culminaram em março de 1964 com a derrubada do presidente Goulart em um golpe militar liderado pelo chefe do Exército, general Humberto Castello Branco.

Goulart tinha causado insatisfação em Washington ao adotar políticas como a de indicar socialistas para o ministério, e a CIA estava profundamente envolvida nos eventos que levaram à derrubada dele, através de ligações com grupos locais de direita e organizações norte-americanas, como o AILFD [Instituto Americano para o Desenvolvimento do Trabalho Livre].

No ano de 1962, sob a bênção de John Fitzgerald Kennedy, o Departamento de Estado dos EUA recomenda a vinda do padre Peyton para o Brasil, de acordo com dossiê publicado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas.

Estamos em plena Guerra Fria, e a esquerdização da América Latina tira o sono do mais jovem presidente norte-americano.

João Goulart, o Jango, transformado em presidente em 1961 e esvaziado pelos militares, que o fazem engolir o parlamentarismo, retoma o poder por plebiscito em 1963 e tem o apoio da esquerda: com os brizolistas, sindicalistas e comunistas.


A frágil democracia brasileira está ameaçada por radicalismos de ambos os lados.

Entra em cena um religioso de pele e cabelos muito brancos, nascido na Irlanda em 1909 e conhecido como "o padre de Hollywood".


Pelo gosto por holofotes e multidões, Patrick Peyton era em tudo o padre Marcelo dos anos 60 - só que com alcance mundial e uma obsessão pelo rosário.

Daí seu apelido. Os discos em que personalidades do mundo do cinema rezavam com ele o conjunto de orações composto por 15 padre-nossos e 15 dezenas de aves-marias frequentavam a lista dos mais vendidos.


Sua "Cruzada do Rosário em Família" levava multidões às ruas em países tão díspares como México e Uganda.

O apelo político das mobilizações que o padre começa a fazer por aqui era óbvio. Segundo o discurso de direita da época, ateus, os comunistas iriam acabar com a família. Contra eles, o rosário. Historiadores atribuem às "cruzadas" do padre Peyton a semente que levou à Marcha da Família.

O Padre Peyton tornou-se extremamente grato à Nossa Senhora pela recuperação de sua saúde e com a permissão dos seus superiores iniciou a Cruzada da Oração na qual pregava a importância mundial da oração, especialmente, da oração em família.
O seu famoso slogan era “A Família que reza unida, permanece unida”.

Peyton além de criar o movimento do Terço em Família, participou da Marcha da Família com Deus para a Liberdade. O Padre Peyton, após uma vida dedicada ao sacerdócio e à evangelização, faleceu em São Pedro, California, em 3 de junho de 1992.

Por suas virtudes heróicas e apostólicas, foi iniciado na Santa Sé o processo para exame da sua canonização. É considerado Servo de Deus, o primeiro momento em direção à santificação.

Cruzadas pelo rosário

Em seu trabalho religioso a serviço do governo dos Estados Unidos, conduziu cerca de 40 cruzadas do rosário em muitos países, abrangendo em torno de 28 milhões de fiéis.
Ele participou de centenas de programas de rádio e televisão com muitos artistas famosos de cinema da Broadway e Hollywood, e criou, ainda, o “Teatro da Família”.

Nessas cruzadas, criadas a partir de Hollywood em 1947, produziu cerca de 600 programas de rádio e de televisão com cerca de 10.000 transmissões com o intuito de pregar a oração em família, e, consequentemente, alertar as populações do mundo contra o perigo comunista, a partir de 1947 até meados de 1969.

Brasil
No caso do Brasil, a criação do movimento teve o intuito de preparar a opinião pública para a implantação do regime militar a partir de 1° de abril de 1964.

Peyton Memorial
O Centro de Memória Frei Peyton CSC, dedicado ao sacerdote, foi oficialmente aberto em 10 de outubro de 1998, em Attymass, Irlanda.


O Centro lembra a vida e o trabalho apostólico do “Padre do Rosário” (The Rosary Priest, em inglês) e é um local de respeito, oração e paz. Ele é procurado e altamente prestigiado por peregrinos e tornou-se, também, uma atração turística. O Centro organizou as comemorações do centenário de nascimento do seu patrono no ano de 2009.


Obtido em wikipedia.org/wiki/Patrick_Peyton"

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